O
Independiente Del Valle entrou para a história, merece todos os elogios
possíveis e muito bem poderia ter conquistado o lugar mais alto do futebol
continental, mas é incontestável que o título do Atlético Nacional faz um bem
imenso para o futebol sul-americano. Porque é um clube grande, de massa. Porque
prova que há futebol em alto nível jogado na América do Sul. Porque faz quatro
anos que ameaçava. Porque tinha contas a acertar com sua própria história.
Faz
cerca de quatro anos que o Atlético Nacional é uma das maiores potências do
futebol sul-americano, condição que alcançou também pelo aporte financeiro,
claro, mas especialmente porque desenvolve um trabalho de fôlego. Juan Carlos
Osório permaneceu no comando do clube por três anos e seu sucessor, Reinaldo
Rueda, fez o time ser ainda mais contundente e PELIGROSO.
Neste
período, o Verdolaga ultrapassou América de Cáli e Millionarios e se tornou o
maior vencedor da Colômbia, com 15 títulos (quatro deles conquistados a partir
de 2013). Só não venceu mais porque a máquina pais decidiu, corretamente,
estender o poder do seu ARADO continente afora, com uma louca e cortante
obsessão: a Libertadores. O que faltava não falta mais. A América amanheceu
ardendo em suor com La Fiebre Verdolaga que rompeu a alvorada.
Desde
1996, o Atlético Nacional é comandado pela Organização Ardila Lulle, que
investiu forte no clube e tornou uma CENTRÍFUGA de títulos. Vejam bem: faz
vinte anos. No Brasil se resolveu dar atenção para isso apenas depois que os
cafeteros eliminaram o São Paulos com SUPOSTOS erros de arbitragem. Porque
nossa derrota nunca é apenas nossa, e a vitória dos outros jamais é
incontestável. Todo dia é um 7 a 1. E, a partir de agora, toda noite é um
Atlético Nacional.
No
Brasil, desenvolvemos uma estranha compulsão de analisar qualquer coisa
relacionada ao futebol sul-americano partindo do princípio que nos devem alguma
satisfação, bater continência para um país que sempre virou as costas ao
restante do continente. Nosso PANDEIROCENTRISMO manda, portanto, que tentemos
fazer alguma relação entre o título do Atlético Nacional com o futebol
brasileiro. A relação hoje é apenas uma: superioridade. Tanto que na Colômbia a
percepção em relação a hoje é apenas uma: superioridade. Tanto que na Colômbia
a percepção em relação a influência política é justamente inversa: a derrocada
da Conmebol teria permitido que times de outros centros entrassem em evidência.
É claro
que a relação com o empresário já havia desencadeado certa revolta inclusive
entre os torcedores rivais na Colômbia, afinal Lulle também é dono dos canais
de televisão que transmitem o campeonato, por exemplo. Inclusive houve certo
LEVANTE quando se tentou transformar o Verde em uma espécie de “Colômbia na
Libertadores” agora na final. Mas daí a condicionar a EXCELÊNCIA que o time do
Nacional mostra em campo há anos apenas à influência e grana do empresário é
ser demasiado pedestre como nem mesmo as centopéias conseguem ser.
Um
outro fantasma, este justificado, bem maior e ainda presente, começa a se dissipar
com o flamente título Verdolaga. O narcotráfico é uma chaga que ainda machuca o
povo colombiano, e não temos noção disso quando remexemos em um tema tão
delicado, seja pela incompreensível urgência de fazer algum humor
desnecessário, seja por ignorância mesmo. A conquista da Libertadores de 1989
pelo time de Medellín sempre esteve envolta em suspeita, afinal vários indícios
apontavam para a influência de Pablo Escobar, inclusive com árbitros contando
histórias bizarras de tentativa de suborno e outros eventos macabros – que
aconteciam não apenas no futebol, mas na sociedade colombiana.
De
forma cruel, o Atlético Nacional, para o senso comum, passou a ser vinculado ao
narcotráfico. Como se um time que contasse com Higuita, Alvarez e Usuriaga, que
perdeu o Mundial Interclubes para o Milan de Maldini, Baresi e Van Basten
apenas com um gol de falta no ÚLTIMO minuto da prorrogação não tivesse seus
próprios (muitos) méritos. Como se a goleada de 5 a 0 que a Colômbia aplicou na
Argentina fosse movida a Gatorade de cocaína.
Hoje,
com a Copa Libertadores recebendo de peito aberto seu nome pela segunda vez, de
forma incontestável, com o time mais poderoso do continente, o Atlético
Nacional dá uma prova insuspeitável de sua grandeza. Revigora sua história sem
apagá-la – porque a história não é construída apenas com glória e esplendor.
Coloca novamente a Colômbia em evidencia e perfila-se como um dos grandes
vultos do continente. Um vulto verdolaga, imenso e vendedor.
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