terça-feira, 2 de agosto de 2016

Atlético Nacional campeão: a América agradece

                O Independiente Del Valle entrou para a história, merece todos os elogios possíveis e muito bem poderia ter conquistado o lugar mais alto do futebol continental, mas é incontestável que o título do Atlético Nacional faz um bem imenso para o futebol sul-americano. Porque é um clube grande, de massa. Porque prova que há futebol em alto nível jogado na América do Sul. Porque faz quatro anos que ameaçava. Porque tinha contas a acertar com sua própria história.
                Faz cerca de quatro anos que o Atlético Nacional é uma das maiores potências do futebol sul-americano, condição que alcançou também pelo aporte financeiro, claro, mas especialmente porque desenvolve um trabalho de fôlego. Juan Carlos Osório permaneceu no comando do clube por três anos e seu sucessor, Reinaldo Rueda, fez o time ser ainda mais contundente e PELIGROSO.
                Neste período, o Verdolaga ultrapassou América de Cáli e Millionarios e se tornou o maior vencedor da Colômbia, com 15 títulos (quatro deles conquistados a partir de 2013). Só não venceu mais porque a máquina pais decidiu, corretamente, estender o poder do seu ARADO continente afora, com uma louca e cortante obsessão: a Libertadores. O que faltava não falta mais. A América amanheceu ardendo em suor com La Fiebre Verdolaga que rompeu a alvorada.
                Desde 1996, o Atlético Nacional é comandado pela Organização Ardila Lulle, que investiu forte no clube e tornou uma CENTRÍFUGA de títulos. Vejam bem: faz vinte anos. No Brasil se resolveu dar atenção para isso apenas depois que os cafeteros eliminaram o São Paulos com SUPOSTOS erros de arbitragem. Porque nossa derrota nunca é apenas nossa, e a vitória dos outros jamais é incontestável. Todo dia é um 7 a 1. E, a partir de agora, toda noite é um Atlético Nacional.
                No Brasil, desenvolvemos uma estranha compulsão de analisar qualquer coisa relacionada ao futebol sul-americano partindo do princípio que nos devem alguma satisfação, bater continência para um país que sempre virou as costas ao restante do continente. Nosso PANDEIROCENTRISMO manda, portanto, que tentemos fazer alguma relação entre o título do Atlético Nacional com o futebol brasileiro. A relação hoje é apenas uma: superioridade. Tanto que na Colômbia a percepção em relação a hoje é apenas uma: superioridade. Tanto que na Colômbia a percepção em relação a influência política é justamente inversa: a derrocada da Conmebol teria permitido que times de outros centros entrassem em evidência.
                É claro que a relação com o empresário já havia desencadeado certa revolta inclusive entre os torcedores rivais na Colômbia, afinal Lulle também é dono dos canais de televisão que transmitem o campeonato, por exemplo. Inclusive houve certo LEVANTE quando se tentou transformar o Verde em uma espécie de “Colômbia na Libertadores” agora na final. Mas daí a condicionar a EXCELÊNCIA que o time do Nacional mostra em campo há anos apenas à influência e grana do empresário é ser demasiado pedestre como nem mesmo as centopéias conseguem ser.
                Um outro fantasma, este justificado, bem maior e ainda presente, começa a se dissipar com o flamente título Verdolaga. O narcotráfico é uma chaga que ainda machuca o povo colombiano, e não temos noção disso quando remexemos em um tema tão delicado, seja pela incompreensível urgência de fazer algum humor desnecessário, seja por ignorância mesmo. A conquista da Libertadores de 1989 pelo time de Medellín sempre esteve envolta em suspeita, afinal vários indícios apontavam para a influência de Pablo Escobar, inclusive com árbitros contando histórias bizarras de tentativa de suborno e outros eventos macabros – que aconteciam não apenas no futebol, mas na sociedade colombiana.
                De forma cruel, o Atlético Nacional, para o senso comum, passou a ser vinculado ao narcotráfico. Como se um time que contasse com Higuita, Alvarez e Usuriaga, que perdeu o Mundial Interclubes para o Milan de Maldini, Baresi e Van Basten apenas com um gol de falta no ÚLTIMO minuto da prorrogação não tivesse seus próprios (muitos) méritos. Como se a goleada de 5 a 0 que a Colômbia aplicou na Argentina fosse movida a Gatorade de cocaína.
                Hoje, com a Copa Libertadores recebendo de peito aberto seu nome pela segunda vez, de forma incontestável, com o time mais poderoso do continente, o Atlético Nacional dá uma prova insuspeitável de sua grandeza. Revigora sua história sem apagá-la – porque a história não é construída apenas com glória e esplendor. Coloca novamente a Colômbia em evidencia e perfila-se como um dos grandes vultos do continente. Um vulto verdolaga, imenso e vendedor.

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