Agosto de 2016, Grêmio vence o
Atlético Paranaense na Arena da Baixada por 1 a 0 – gol de Bolaños.
Aproximadamente um mês depois as equipes voltam a se enfrentar na Arena do
Grêmio, em Porto Alegre. Jogo tranquilo, apesar de estar estreando seu novo
treinador Renato Portaluppi. Em 29 minutos, o domínio era Tricolor e o que podia
fazer de leitura era que, se continuasse daquele modo, somente um falha
colocaria a classificação as quartas de final em risco. Pois bem, aos 30
minutos ela aconteceu. Uma falha ridícula, na súmula o gol foi para André Lima,
mas Marcelo Grohe foi o responsável pela proeza: um erro ridículo, um “piru sem
rabo”, um dos maiores “frangos” do ano. Placar mantido, derrota por 1 a 0 e decisão
por pênaltis. Intermináveis dezesseis cobranças, oito para cada equipe, para,
aí sim, ser consumada a classificação gremista: triunfo por 4 a 3. O
personagem? Novamente ele, Marcelo Grohe. Agora, defendendo três cobranças e,
na que foi desperdiçada por Paulo André, tendo total mérito por desconcentrar o
zagueiro. O camisa 1, vivia momentos de indecisão. Uns clamavam por sua saída,
outros pediam permanência. Naquele jogo,
ele colocou aquilo em prático, foi vilão e herói.
Porque lembro aquele jogo? Para
tentar exemplificar as condições do goleiro gremista. Naquele jogo, Grohe foi
escancaradamente ele mesmo: irregular. Importante negativamente em momentos de
calmaria, importante positivamente em momentos de apuro. Momentos, me refiro a situação de jogo e periculosidade
das jogadas. Quem é goleiro, ou ao menos conhece a posição, sabe do que estou
falando, muito tem haver com “zona de conforto” e nível de concentração. Todos
os jogadores, de todas as posições, enfrentam essas condições, mas o goleiro
quem mais pode se prejudicar e, também, beneficiar com isso, simplesmente
porque raramente terá alguém por ele, ou seja, para concertar uma falha ou então
para aplicar um milagre e evitar o “gol certo”. Marcelo vive isso,
rigorosamente toda temporada. É instável. Num achismo, considerando esses
aspectos, me parece – com quase toda certeza – que essa instabilidade se dá em
consequência de não conseguir/saber assimilar bem as circunstâncias de jogo com
as emocionais, ou ainda, por não reconhecer seus limites.
O ápice de Grohe foi em jogos com
pressão, especialmente no seu surgimento. Victor ia para a Seleção, o filho do
Olímpico era acionado para substituir o melhor goleiro em atividade no futebol
brasileiro da época. Dava conta do recado, nível de concentração elevado.
Quando reserva, sempre foi assim, nunca decepcionou. Meados de 2012, Victor ruma
ao Atlético Mineiro. Marcelo Grohe recebe sequência e status de titular, mas
fora das quatro linhas os cartolas procuravam goleiros, novamente pressionado e
correspondendo. Em 2013, Dida é contratado e assume titularidade. Enfim,
titular absoluto e com respaldo da diretoria em 2014. Inconscientemente, acredito
eu, pressionado devido ao histórico recente – muito bem em 2012, mesmo assim
reserva de Dida em 2013 – e correspondeu, ficou entre os cogitados para ir à
Copa, manteve regularidade e foi um dos melhores goleiros brasileiros em 2014 e
2015. Chegou a Seleção. Foram momentos de afirmação, precisava mostrar serviço.
E, mostrou. Goleiro competente, com poucas falhas e defesas milagrosas.
Em 2016, um novo Marcelo, ainda
milagreiro em jogos importantes, mas também que falhava em lances inoportunos. Aí,
imagino, que entra o fator psicológico. Não foi à Copa, talvez pela preferência
de Dida no gol gremista em 2013. Na Seleção, quando convocado, disputou posição
com Jefferson em fase extraordinária e, posteriormente, Alisson Becker, um
jovem ascendente à ser preparado para Copa de 2018. Pior, Alisson vestia as
cores do rival e comprovou sua qualidade em 2015/2016. Muita coisa afetou
Grohe, inclusive isso. A queda de rendimento vai a encontro daquele jogo citado
lá no início, pois lá já havia cobranças de parte da torcida, que pouco tempo antes
o tratava com idolatria. Lá, ano passado, contra o Atlético-PR, foi o recomeço
de um goleiro que terminou a temporada levando taça e sendo personagem de um
Grêmio que quebrou um jejum de 15 anos sem títulos de relevância a nível nacional.
Porém, entretanto, toda via, o último marco com bola rolando do torneio foi um
golaço de Cazares, num chute desferido antes do meio-campo, por cobertura, que só
foi possível graças a uma desatenção do camisa 1.
Título, vida nova? Marcelo Grohe
das “antigas”? Não, a versão 2017 segue instável. Perdeu a vaga na Seleção. O
retorno massivo das cobranças aconteceu no domingo, 25 de julho, na Arena do
Grêmio, contra o Corinthians. O Tricolor perdeu por 1 a 0, uma bola pelo meio
das pernas de Grohe. No jogo seguinte, na quarta-feira, 28, novamente em Porto
Alegre, curiosamente Copa do Brasil contra o Atlético Paranaense e o goleiro
pouco foi exigido, e nas raras vezes foi extremamente competente – com uma
defesa providencial que evitou tento do Furacão. Mas, o “mas” lhe acompanha... Marcelo
agarrou um recuo de Geromel, que aparentemente buscava o Kannemann,
acertadamente a arbitragem marcou tiro-livre indireto praticamente na pequena
área. A cobrança parou na zaga, sorte de Grohe. Estava 0 a 0, se entrasse, a
história do jogo poderia ter mudado. Típico lance de desatenção.
Enfim, não estou dizendo que o
goleiro gremista tem que ser reserva, que não possui qualidade ou coisa
parecida. Ao contrário, Marcelo tem futebol para estar entre os melhores
goleiros do Brasil. É, apesar das falhas, um dos melhores em atividade no
futebol brasileiro (lógico que levando em conta que está no Top 10 num país de quatro
divisões nacionais e com mais de vinte estaduais com, no mínimo, duas divisões).
Grohe surgiu como goleiro seguro, porém o tempo e a necessidade de recuperar
credibilidade transformou-lhe num goleiro firulento, que prefere uma defesa com
rodopios ao invés de uma intervenção segura e menos “expressiva em gestos”.
Estou falando de um goleiro que admirei muito, estou falando de um goleiro
questionado devido a alguns detalhes, pequenos, mas suficientes para mudar o rumo
de uma partida de futebol.
Atualmente, com 30 anos, o
arqueiro necessita reconhecer suas limitações. A fase que era unanimidade no
Brasil passou, nem no Grêmio transmite toda segurança de outrora. Para os bons ventos
soprarem favoravelmente, precisa-se manter o “foco total” durante os 90 minutos
e, talvez, esquecer o que passou, até porque os elogios deixaram-no
superestimado. Por fim, o Grêmio tem sim um grande goleiro. O Grêmio tem
Marcelo Grohe... um sujeito de muita qualidade, mas de pouca concentração.
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