quarta-feira, 4 de maio de 2016

Colchoneros e regulamento, uma relação que deu vaga

                Um dia após o modesto Leicester ser congratulado campeão inglês, jogando um futebol intenso e com marcação implacável, o Atlético de Madrid consagrou ainda mais este estilo de jogo, tão criticado por simpatizantes do futebol “ataque total” ou então o “tic-taca”. A grande semelhança está no estilo que Colchoneros e Foxes jogam: um futebol que não é bonito, porém também não é feio. Eu, apesar de ser apaixonado pela evolução tática do futebol, mas como bom sujeito sul-americano, me arrepio quando vejo jogadores marcando em bloco, encurtando espaços, seja na pressão alta ou inteiramente atrás da linha divisória. Ser intenso, jogar no 220v os 90 minutos é missão rara de conseguir e quem consegue colhe frutos.
                No atual cenário, não existe exemplo maior do que o Leicester e o Atlético, que derrubaram gigantes e conquistam fãs jogo a jogo. Enfim, parabéns aos Foxes, mas o assunto agora são os caras que pela segunda vez em três anos chegam à final da principal competição da Europa. A mesma base, a mesma sistemática. Mudam poucas peças, não muda a trajetória. Depois de anos, o Atlético quebrou a hegemonia de Real Madrid e Barcelona no futebol espanhol, ficou vice-campeão europeu em 2014 no detalhe e em 2015/16 vai fazendo história novamente.
                O mais incrível é que eles crescem em jogos complicados. Favoritos, sofreram nas oitavas e só passaram nas penalidades diante do PSV. Nas quartas, os comandados de Diego Simeone fecharam a cara, colocaram a faca entre os dentes e o sorriso apareceu somente depois de 180 minutos. Pra eles sorrirem, só com a vaga, ou seja, eliminando o Barcelona. Na semi, o cenário se repete, só o adversário mudou: Bayern eliminado em plena  Allianz Arena, em Munique, nesta terça-feira. Em síntese, a essência futebolística ganhou novamente.
                O Bayern jogou a partida inteira como um trator. Foi pra cima com tudo, afinal havia perdido por 1 a 0 em Madrid. O gol de Xabi Alonso não mudou o cenário, tanto que no minuto seguinte teve um pênalti a favor cobrado por Müller e defendido pelo ótimo goleiro Oblak. Mudou de tempo, os bávaros seguiram pressionando, mas num erro, no único contra-ataque, o Atlético fez o crime: Griezmann empatou, calando a boca de quem ainda insistia em chamá-lo de “pipoqueiro”. Depois, Neuer defendeu penalidade de Torres, manteve os mandantes vivos, que diminuíram com Lewandowski e pressionaram até o fim. Guardiola mandou Thiago Alcântara para o aquecimento, somente para ele auxiliar o serviço dos “gandulas” na reposição de bola.  Foi uma pressão infernal, mas não deu pra virar.
     Não seria injusto se ocorresse à virada, assim como não foi injusta a classificação madrilena, afinal avançou quem soube jogar dentro das circunstâncias. O regulamento foi valorizado. Nos mais de 180 minutos, o Atlético de Madrid jamais esteve sendo eliminado. Simeone não se incomoda em ensinar aos seus comandados que vencer por “meio a zero” é bonito, pode não ser vistoso, mas é vitoria, se bem que neste caso derrota, mas com passagem pra Milão carimbada. Esse é o Atlético, a embalagem pode até não ser bonita, mas a satisfação do cliente é garantida. Seus clientes (torcedores) agradecem.

Por Ed Andreick Moreira Wisniewski

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